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Se você já foi ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina, com certeza já se deparou com ele. De terno bem alinhado, gravata e sapatos devidamente lustrados, Rafael Digueta, 32 anos, não passa despercebido. Não pelo traje típico de quem por lá circula, mas porque ele é engraxate.

– Bom dia! O sapato do senhor está precisando de um trato. Vem aqui que eu dou um jeito.

E é assim, sem estipular valor – “o cliente me paga quanto ele acha que vale meu trabalho”, diz -, que Digueta contabiliza clientes ao longo do dia. O número é variável. “Às vezes são 10 engraxes por dia, outras vezes mais, algumas menos. Varia bastante. Com a pandemia teve uma queda grande, de cerca de 60%”, conta.

Com sua caixa equipada com os mais variados produtos para o lustre de sapatos, ele coloca um sorriso no rosto e todo o seu conhecimento de marketing para atrair a clientela. Há quase 20 anos ao lado da entrada do Tribunal – faça chuva ou faça sol, das 7h às 19h -, Digueta tem um público fiel. Fruto do esforço que iniciou aos 12 anos, quando desembarcou em Florianópolis para perseguir o sonho de viver como engraxate.

“Eu pensei em um lugar onde teriam muitos sapatos, daí veio a ideia de trabalhar no Tribunal de Justiça”, explica. “Naquela época eu já pensei no terno como um diferencial. De me vestir de acordo com o meu público e chamar a atenção. O terno era muito grande para o meu tamanho, mas foi assim que fui me destacando como engraxate”, relembra. Ele saiu de Araranguá, sua cidade natal, para caminhar cerca de 220 quilômetros até chegar na capital catarinense, onde dormiu na rua por cinco meses.

Vida bem diferente da que tem hoje. Conectado com mais de 7 mil seguidores em sua conta no Instagram @rafaeldiguetaengraxate, ele não para de trabalhar. Nos fins de semana e feriados vende panos de prato e outros produtos pelas ruas da cidade. Casado há 13 anos e pai de um menino de oito anos, Digueta vislumbra um futuro bem diferente. “Eu não vim de uma família feliz, mas quero dar uma família feliz para a minha”, promete.